O sol não morre atrás das montanhas

Eu não escolhi colocar o sol sobre a face e ver as sombras sobre minhas costas, mas inevitavelmente onde não bate o sol, há uma legião de sombras silvestres.

Elas medram espontaneamente trazendo condições inevitáveis e eu terei que observá-las eternamente como uma forma simples de fuga, temê-las ou talvez inseri-las nalgum contexto de minha vida.

Sombra fresca não é exatamente onde eu me deleite.

Talvez me acolha me esquecendo, me ausentando da multidão selvagem que aparece sempre me executando equívocos e erros que falam mais de quem sou do que sobre o que não quero.

Sempre que digo não ou sim às coisas a minha volta, ou simplesmente às coisas que dou ou não dou conta, falo um pouco do que pretendo, do que receio, mas conto mais uma página sobre mim.

Não importa como escrevo, quantos pontos, vírgulas ou exclamações eu exalte, sempre estarão ali aqueles três pontos intermináveis e as interrogações que já fazem morada.

Meu abrigo tem sido todas as páginas que ainda não escrevi.

Talvez seja o alento de tanta gente e eu me abrigo nisso como uma luz quando se aponta num horizonte.

Mas, quer saber? Por mais poético que seja, é no horizonte sim que tudo nasce, mas também termina. Finda toda esperança naquelas linhas que meus olhos contornam.

É lá que o vento suspira forte e gélido no ar como um retrato que me revela mais um dia de chuva.

É dali que a neblina faz passeata. E é sempre atrás daqueles montes que o rio desfila.

Ele deságua sim entre alguns mares, traz uma força bruta que só aparenta calma numa paisagem tropical.

Mas, passeia entre um espaço nórdico de segredos e traga sorrateiro também num piscar de olhos.

Contaram-me histórias sobre as desventuras do sol perante a chuva.

Muitas vezes ele quis desaparecer em segredo, mas eu quase nunca o vi atrás daquelas montanhas.

Sozinha eu procurava segui-lo com os olhos e depois os fechava para continuar vendo-o em minha mente.

Mas, toda noite não posso contá-lo, porque eis que me surgem as estrelas.

Talvez eu não perca muito o sol de vista, porque mesmo não querendo ele reaparece.

Mesmo sem abrir a janela ele me bate à porta, transpassa a vidraça.

Persistente contorna até mesmo o telhado. Vem me contar histórias que se avizinham, histórias que se passaram de longe e também aquelas do dia seguinte que não vi enquanto dormia mais cedo.

De repente estou contornando meus pés e vendo tudo por onde o sol toca. Atravessa claridade em meus olhos, aqueles que me falam de alma.

Vejo o quanto ele abraça tudo fazendo a sombra ter seus méritos.

Vi também o quanto não me apercebo em tudo quando me dou por vencida, me renego.

Vejo crianças subindo nas árvores, animais descansando nas sombras das guias, as plantas dançando no assovio do vento e o sol se despedindo mais uma vez humilde.

Contaram-me um segredo de dia enquanto eu me distraía de mim e vi só depois, à tardinha que o sol não morre atrás das montanhas.

Aquelas conversas de você para você que são adiadas, os diálogos que seu coração insiste em fazer e os pensamentos que lhe procuram, encontram-se no meu novo livro Farol das Palavras – Debaixo do sol. São 427 reflexões, textos, poesias e aforismos para que você encontre o seu porto entre um caminho de possibilidades. E este caminho, é você quem escolhe!

Confira também este belíssimo vídeo onde a Claudia do Canal Momento Literário compartilhou sua opinião sobre a leitura.

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