Centenário Clarisse Lispector

Nome fundamental da literatura brasileira, Clarisse Lispector recebe uma exposição no Instituto Moreira Salles – IMS Paulista em homenagem ao seu centenário.

A mostra Constelação Clarisse aconteceria no ano passado, mas devido a pandemia precisou ser adiada para este ano. E eu que não sou boba e nem nada aproveitei para conferir de pertinho no dia 19 de novembro data do meu aniverário, todo esse universo profundo e abrangente que recebeu uma curadoria minunciosa e ao mesmo tempo pontual.

Nascida na Ucrânia em 1920, veio quando pequena (criança de colo) para o Brasil, tornou-se a única mulher da redação do Jornal do Brasil onde trabalhou e é autora de mais de dezoito livros.

Merecidamente reconhecida como um dos principais nomes da literatura nacional, Clarisse é de fato uma autora que permanece viva e reluzente representante da verdadeira arte de escrever com furor nos mais variados aspectos.

E não poderia deixar de acrescentar, determinantemente, reluz também melancolia pungente.

Constelação Clarisse foi uma ideia genial!

A autora também nutria grande interesse pelas artes visuais e pensando nisso, criou-se uma conexão entre toda sua produção textual e as obras de mulheres que, no mesmo período, marcaram a história da arte brasileira.

E dessas interlocuções nasceu então o conceito de constelação.

Uma singular história da arte brasileira é assim conjungada no feminino, com obras que só o universo literário de Clarisse permiti reunir, propondo uma teia de relações capaz de gerar novas e surpreendentes leituras recíprocas.

A seguir vocês poderão conferir alguns cliques da minha visita ao apartamento de Clarisse! Isso mesmo! Não escrevi errado.

Em O apartamento me reflete I, estão reunidos alguns objetos, documentos, passaportes, discos, fotografias de álbuns de família, quadros de sua coleção com desenhos, gravuras e pinturas de vários artistas.

Em O apartamento me reflete II, podemos conferir mais documentos entre cardenetas de anotações, cartas recebidas, os datiloscritos de Água Viva, as duas primeiras edições de seus livros, convites para congressos e mais algumas fotografias. O detaque na minha opinião vai para suas duas máquinas de escrever.

O universo de Clarisse também entra no mundo das artes visuais, em “O Lustre”, Virgínia fazia bonecas de barro, em “A Paixão Segundo G.H”, a protagonista é uma artista plástica e a montagem não poderia deixar de apresentar uma secão para as pinturas feitas pela autora.

O que me desconstrói, por incrível que pareça, é pintar, e não ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. Pinto tão mal que dá gosto e não mostro meus, entre aspas, “quadros” a ninguém. É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas, sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço. “Literatura Vanguarda no Brasil”, Outros Escritos.

Meu ideal seria pintar um quadro de um quadro. Vivo tão atribulada que não aperfeiçoei mais o que inventei em matéria de pintura. Ou pelo menos nunca ouvi falar desse modo de pintar: consiste em pegar uma tela de madeira – pinho – de – riga é a melhor – e prestar atenção às suas nervuras. De súbito, então vem do subconsciente uma onda de criatividade e a gente se joga nas nervuras acompanhando-as um pouco – mas mantendo a liberdade. Fiz um quadro que saiu assim: um vigoroso cavalo com longa e vasta cabeleira loura no meio da estalactites de uma gruta. É um modo genérico de pintar. E, inclusive, não se precisa saber pintar: qualquer pessoa, contanto que não seja inibida demais, pode seguir essa técnica de liberdade. E todos os mortais têm subconsciente. Ah, meu Deus, tenho esperança adiada. O futuro é um passado que ainda não se realizou. Um sopro de vida.

No quadro, que chamei de “Terror”, arranquei de mim, talvez através da magia, todo horror que um ser sente no mundo. A tela era pintada de preto, quase no centro havia uma terrível mancha amarelo-escura, e dentro dessa macha algo vermelho, preto e amarelo vivo. Parecia uma mariposa sem dentes querendo gritar, sem conseguir. Perto da massa amarela, por cima do preto, pintei dois pontos completamente brancos que talvez fossem a promessa do alívio futuro. Olhar para esse quadro me faz mal. “Literatura e magia”

No último trabalho, Explosões, foi produzido com um vidro de esmalte vermelho-berrante para unhas jogado a esmo sobre a madeira. Arte descompromissada e tecnicamente primitiva, mas que consegue lhe devolver o equilíbrio e restabelecer sua identidade. Entrevista a Celso Arnaldo Araújo, Manchete, 03/05/1975

A exposição é realmente rica em detalhes, mas enorme destaque também vai para algumas partes do manuscrito de “A Hora da Estrela”.

Este é realmente um passeio imperdível!

Para mergulhar neste oceano profundo de sol e chuva, de vento e pó, de nascimento, renascimento e eternidade de versos, é só fazer o agendamento diretemente pelo site do IMS Paulista.

  • Exposição gratuita.
  • Agendamento aos domigos sempre às 18:00h
  • O ambiente respeita todos os protocolos de segurança contra a Covid-19

E por aqui finalizo este post, mas reforçando a alegria imensa que é ter tido a oportunidade de visitar um espaço tão agradável e com uma curadoria excelente.

O prédio do IMS também conta com livraria, um aconchegante espaço para um café e uma vista deslumbrante da Avenida Paulista.

Com toda certeza Constelação Clarisse precisa entrar na sua lista de lindas exposições literárias.

#faroldaspalavras

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