O livro em que participo com minha poesia “De repente” em reflexão ao atual tempo pandêmico, “Literatura e Cultura em Tempos de Pandemia” foi lançado hoje no Festival Lisboa 5L – Festival Literário de Lisboa a partir das 17:30h (Horário de Portugal)
E também estará disponível nas livrarias portuguesas com a chancela da Guerra e Paz Editores.
A Covid-19 afetou e vem ainda afetando de forma traumatizante todo o mundo e todos os países de Língua Portuguesa e, de forma especialmente profunda, o setor cultural. A vocação cultural da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa levou-a sugerir aos escritores e outras pessoas ligadas à cultura em Língua Portuguesa a escrever textos em prosa e poesia motivados pela pandemia ou sobre ela refletissem.
Foi então que nasceu a obra Literatura e Cultura em Tempos de Pandemia como resultado da união de 70 autores. São cerca de 40 homens e 30 mulheres, naturais de sete países de língua oficial portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe), a que se juntam a Galiza e Olivença/Espanha, Goa/Índia e Macau/China.
É uma honra, uma alegria imensurável meu texto ter sido escolhido entre tantos para participar de uma obra que nasceu com um intuito tão importante e que de uma forma ou outra marcará a nossa história eternamente.
A UCCLA contou também com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.
De repente o dia amanheceu com pressa, mas não a habitual pressa, aquela de todo dia.
Com a pressa urgente da alma, do gozar de bom espírito!
De sentir-se mais que amado, abraçado, importante nas searas do coração.
De sentir os detalhes sutis, antes nunca tão apercebidos como agora, provocando saudade!
Saudade se universalizou! Todo mundo agora sente. Todo mundo dela é um pouco carente.
Todo mundo entende o que a distância provoca, do que a presença verdadeiramente é capaz!
De repente, a privação do ir e vir.
Alguns dias parecem anos e de repente significam mais.
A rotina é devidamente colocada num posto importante.
É bandeira hasteada com mais respeito e valor.
Há quem já sofra de outras urgências, daquelas que se encontravam esquecidas.
Quem somos nós quando estamos em companhia de nós mesmos?
Os aplausos já não moram ao lado, os conselhos já não cedem colo ou ombro.
E a presença virtual antes tão corriqueira, largamente comum, agora ganha outros entendimentos, outros tons, outros tônus!
Os diálogos mudos que pairavam sobre as mesas postas…
Os almoços e jantares rodeados pelos celulares, hoje clamam por uma presença menos virtual.
Queremos o toque, o olhar, o cheiro até mesmo do silêncio, mas que provoque barulho!
O isolamento em outros tempos tão desejado por quem queria afastar-se da multidão, hoje parece brincadeira que perdeu a graça.
Um boicote natural da vida que apresenta um belo dia de chuva, de sol, convidativo a correr sem destino, abraçando o mundo todo. E agora, tudo que mais se teme, é abraçar.
Um esbarrão quase parece crime, tamanho medo que avassala.
A espera iguala quem imaginava dominar o mundo.
Nos tira a atenção única do próprio umbigo
A espera arranca os cabrestos, as manias de se perder o tempo sem tempo.
E neste agora, todos nós temos tempo para tudo, até para olhá-lo de frente!
De repente o dia provou-se inteiro. É preciso ser inteiro!
E os dias caminham enquanto todos esperam…
É hora de voltar-se para dentro para se aperceber melhor o mundo de fora!
Amanda Lopes (Brasil)
#faroldaspalavras